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Brasil: garanta justiça para adolescentes mortos em incêndio do Flamengo

Caso evidencia urgência de medidas de proteção e eeformas em centros de treinamento

A fan pays homage to the 10 athletes who died in the February 8, 2019 fire at the Flamengo Training Center. Photo taken on February 14, 2019 in Rio de Janeiro, Brazil. © 2019 Buda Mendes/Getty Images

(Rio de Janeiro) – Relatos de que supostas falhas sistêmicas no maior clube de futebol do Brasil levaram à morte de 10 jovens atletas em um incêndio em 2019 levantam questões críticas sobre medidas de proteção e responsabilização no esporte brasileiro, afirmou hoje a Sport & Rights Alliance.

A absolvição de dirigentes do Flamengo em 21 de outubro de 2025 foi devastadora e contradiz evidências de que o Flamengo falhou em proteger os atletas, disseram grupos de familiares das vítimas. O Ministério Público do Estado do Rio de Janeiro recorreu da decisão.

Por pelo menos quatro anos antes do incêndio, segundo reportagens, o Flamengo desrespeitou normas locais, recebeu diversas multas e chegou a ser processado pelo Ministério Público estadual em 2015 por oferecer condições inadequadas e alojamentos precários aos jovens jogadores de sua base. Em fevereiro de 2019, cinco dias após o incêndio que provocou vítimas, um juíz concluiu que o clube não havia cumprido as determinações da ação civil e proibiu a entrada de crianças e adolescentes no centro de treinamento. Após novas inspeções que atestaram o cumprimento das normas, em junho de 2019 o juiz autorizou a reabertura das instalações e encerrou o processo.

“As denúncias sobre as condições da base do Flamengo – o clube de futebol mais popular e lucrativo do Brasil – são extremamente alarmantes”, disse Andrea Florence, diretora executiva da Sport & Rights Alliance. “Mesmo após ter sido processado por falhas na proteção de crianças e adolescentes anos antes do incêndio, o clube estaria operando sem alvarás básicos de incêndio e alojando jovens atletas em contêineres altamente inflamáveis, com graves defeitos estruturais. Enquanto o Brasil se prepara para sediar a Copa do Mundo Feminina da FIFA em 2027, este caso é um importante alerta para a necessidade urgente de fortalecer medidas de segurança no esporte.”

A Associated Press e o New York Times publicaram denúncias detalhadas de negligência sistêmica nas instalações, que, segundo eles, pode ter criado uma armadilha mortal para os 10 adolescentes de 14 a 16 anos que morreram no centro de treinamento Ninho do Urubu. Como retratado em uma minissérie documental de 2024 da Netflix, os jovens eram supostamente alojados em contêineres temporários e inflamáveis instalados em um estacionamento, com grades nas janelas.

A Sport & Rights Alliance enviou uma carta ao Clube de Regatas do Flamengo em 12 de novembro solicitando respostas. O clube não respondeu.

“O incêndio no Flamengo não é apenas um trágico acidente; ele revela as graves consequências da exploração generalizada e do cuidado inadequado com jovens talentos em programas de formação de jogadores em algumas partes do mundo”, afirmou Alex Phillips, secretário-geral da FIFPRO, o sindicato global de jogadores de futebol. “A indústria global do futebol de elite depende de jovens cuja segurança é confiada a centros de formação em clubes como o Flamengo. Não garantir justiça neste caso representa um retrocesso para a segurança de jovens jogadores no Brasil e além.”

Em outubro, veículos de imprensa no Brasil divulgaram gravações registradas pela jornalista Renata Mendonça expondo condições precárias no centro de treinamento do time profissional feminino do Flamengo. O vídeo revela pisos quebrados, vestiários em contêineres com água de torneira escura e a falta de infraestrutura adequada de fisioterapia e academia. O Flamengo ainda não se pronunciou.

“Se essas denúncias forem verdadeiras, o governo brasileiro precisa garantir que o clube seja responsabilizado pela grave negligência e pelas condições deploráveis oferecidas a atletas da base e dos times femininos”, disse Minky Worden, diretora de iniciativas globais da Human Rights Watch. “As famílias das vítimas do Ninho do Urubu lutam incansavelmente há seis anos por justiça e reformas. A comunidade esportiva global precisa ouvi-las e agir com urgência para garantir que uma tragédia como essa nunca mais se repita.”

A Sport & Rights Alliance se posiciona em total solidariedade com a Associação de Familiares de Vítimas do Incêndio no Ninho do Urubu (Afavinu), que divulgou uma nota após a decisão judicial destacando ser uma profunda “afronta à memória das vítimas e aos sentimentos da sociedade como um todo”. Famílias que confiam seus filhos a centros de formação como o do Flamengo devem ter a garantia de que não apenas seu treinamento e talento, mas também sua segurança, acomodação e direitos humanos serão respeitados e protegidos, afirmou a Aliança.

Em novembro de 2024, o Brasil aprovou uma lei que exige que entidades esportivas que recebem recursos públicos adotem e cumpram medidas de proteção, ressaltando que o fortalecimento da segurança de crianças, adolescentes e mulheres atletas seria seu “legado” como país-sede da Copa do Mundo Feminina da FIFA 2027.

Para concretizar esse legado, o governo brasileiro e as autoridades esportivas deveriam também assegurar justiça e reparação às famílias dos jovens atletas do Flamengo e trabalhar conjuntamente para criar uma entidade nacional independente de proteção no esporte, responsável por monitorar e receber denúncias. O direito à segurança de crianças e mulheres atletas é inegociável, e organizações esportivas têm a responsabilidade de proteger todas as pessoas sob seus cuidados.

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